KARAY ERVATEIRO
De dia Machete na mão
A noite mate no fogão!
Na semana era o labor na ranchada
No domingo cachaça para esquecer a amada.
O sonho de ficar rico
No trabalho com o Caá
Surgiram Paraguaios
Crianças, moços e velhos.
Com a força e resistência
Nos ombros o peso do raído
Para o sapeco da erva
O calor do carijo
Pelo sonho do ouro verde
Cruzou fronteira sem limite
De mulheres e filhos acompanhado
Do suor o sangue transformado
O serviço era bruto
Armados de faconaço e o quisê
De junho a outubro
Vestido de xiripá no cancheio
Grito de satisfação
Ecoava pelo erval
Era o entusiasmo do peão
Quando o monteador encontrava uma arboleta
A ARTE DE AMAR NO NASCIMENTO
Estavam nas almas de mães e avós,
Muitas vezes pelos ranchos e estâncias
Percorrendo trechos a sós
Por sua função na serventia.
Com providencias divina
Por rumos distantes,
Embaixo de sóis escaldantes,
Com cuidado de amiga.
Uma arte milenar
Mulheres com grande valia
Com o oficio de partejar
Confiança transmitia
Chás, unguentos e ervas
Panos limpos e agua quente
Muitas vezes era urgente
Para chegada das crianças
Dos nascidos rebentos
Para agradecer o dom recebido
Recebiam como afilhados
A mãe feliz recebia
A chegada dos herdeiros
Com conforto e garantia
Suas ferramentas eram
Tesoura para cortar o umbigo
e ajeitar a posição
As divinas mãos.
Para atender sem dias e horas
Assim essa homenagem vai as parteiras,
Marica, Senhorinha, Inácia,
Josefina, Quita, Civica entres outras tantas..
CÓRREGO AREIÃO
Os matos ladeando a margem
Da água parada no pocinho
Queria ser vizinho
Da borboleta na areia molhada
O progresso trouxe retrocesso
Do tomar banho quando menino
Era uma grande alegria
Dos meninos sem eira e nem beira
Grandes plantas de samambaia
Regada por agua da beira
Que lavava sangue com areia
Do ferimento hoje a cicatriz
A marca da pisada
Deixada na infância
Fica hoje na lembrança
Das flores a fragrância
Dessa saudade
Quando pequenino
Apenas um menino
Trago com felicidade.
ANOTAÇÕES DA VÓ CORNÉLIA
Anotações são memórias
De um tempo de outrora
Pequenos papéis várias histórias
Lidas por pessoas do agora
Cornélia com belas letras
Começa um longo apontamento
Anotadas pela luz das estrela
Lembranças do passado e de momentos
Pedro Armand seu pai o Vasco Francês
Maria Joaquina sua mãe que era Vieira
Casaram-se com festa sem doces
Pois o Sul era revolução até na fronteira
Filhos gerados na vinda ao Mato Grosso
João Pantaleão Nascido no Uruguai
Serviliano ferido por homens perigosos
Cornélia batizada em igreja no Paraguai
Prudêncio nascido em Nhú Verá
Morte por disparo acidental
Casada com Osório Sofia era
Já com Osório irmão o crupe foi fatal
Filhos e netos lembranças têm
Tempo dos sobrinhos e afilhados
Ao passado as anotações remetem
Os filhos do exército foram soldados
Vacina para febre amarela
Remédio para bicha
Para aliviamento o azeite
Vacina para febre amarela
Da morte da Noelina e da Deolinda
Ao nascimento do marido José Silveira
Já idosa a letra tremida
Só não há cura para frieira.
– Albertino Fachin Dias