Índia do rio
A minha vó quando nasceu
Tinha seu corpo coberto por pena azul;
Depois viu que já nem se quer estava mais nu.
A minha mãe, desaprendeu a linguagem de meus ancestrais.
Minha avó, morreu de desgosto,
Minha mãe, morreu de fé.
Mas quando pari o meu filho nas águas do rio Jauru
Eu sabia o que podia me acontecer:
Eu sempre tive braços para poder plantar,
Mas eu nunca tive terra para poder colher.
Vi meu menino morrer três vezes:
Primeiro de fome;
Segundo de peste;
E depois de saudade;
Pois meu homem que desceu esse rio dizendo que voltava,
Eu nunca mais senti o seu cheiro.
Ele fugiu como o meu pai também fugiu.
E ainda querem nos tirar nossas terras,
E ainda querem nos tirar nossas crenças
Nossos costumes.
“AH! Nophoyo Nophy Heraquejhá Kareguajá;”
“Nophoyo Nophy Heraquejhá Kareguajá”
“Nophoyo Nophy Heraquejhá Kareguajá”
Traga-me de volta meu povo,
O meu filho que a fome matou,
E meu ventre que esse rio levou.
Gleycielli Nonato