Rubenio Marcelo

TRIBUTO INDIGENADO
(Rubenio Marcelo)

I.
É necessário, em verdade,
Garantir, reafirmar
A dádiva singular
Do Índio – a Identidade!
Sua multiplicidade
De povos pra todo lado
Deixa um destino traçado
De nacionalização…
Pulsa a história da nação
No meu sangue indigenado!

II.
Esta causa indigenista
Deve estar em todos nós:
Nas ações, na nossa voz
Mais do que mera otimista,
Mais que quimera altruísta
E sim ato abalizado,
Justo e perfeito, timbrado
Em efetiva expressão.
Pulsa a história da nação
No meu sangue indigenado!

III.
Não é somente no dia
Dezenove de abril
Que este povo varonil
Faz jus a toda honraria.
Devemos em sintonia
Com nosso passo engajado
Honrar pra sempre o legado
Desta sublime união.
Pulsa a história da nação
No meu sangue indigenado!

IV.
Meu rosto é revelador:
Sou lá de Aracati;
Tupi, também Guarani,
Moacir, filho da dor;
Um tom miscigenador
Lateja em mim, qual um brado
Que marca o rito sagrado
Que originou o meu chão…
Pulsa a história da nação
No meu sangue indigenado!

V.
Sou Kariri, Anacé,
Tupinambá, Tabajara,
Pitaguary, Potiguara,
Jenipapo-Kanindé;
Sou Tapuia-Tremembé
Nativamente gerado
Em altivo antepassado
De brio e de tradição.
Pulsa a história da nação
No meu sangue indigenado!


 

INTROSPECÇÕES EXISTENCIAIS
(Rubenio Marcelo)

É obra da natureza
A peçonha da serpente;
Já o homem impudente
Envenena-se em torpeza.
Trilha as trilhas da vileza,
Trai irmãos e em triste fado
Condena-se a condenado
Do seu próprio ser insano.
Ah se o dito ser humano
Fosse mais humanizado!

Ah… quantos em desviver
Sorvendo vis espertezas
Regam as próprias tristezas
Ceifando o seu próprio ser…
Ah quantos em vil prazer
Vão em passo simulado
Com coração desalmado
Seguindo o rastro mundano…
Ah se o dito ser humano
Fosse mais humanizado!

Às vezes em desatino
Nem vemos as mil ciladas
Que tisnam as caminhadas
Com roteiro clandestino;
Vezes, num ato ferino
Impróprio, pois impensado,
Geramos um desagrado
Ou mesmo um ríspido dano.
Ah se o dito ser humano
Fosse mais humanizado!

Ah! Se integrações vitais
Varressem conspirações
Que tecem as direções
Dos gatilhos infernais…
Ah se os dons fundamentais
Fundados no amor sagrado
Extirpassem o legado
Do mundanismo tirano.
Ah se o dito ser humano
Fosse mais humanizado!

Quem não quiser como herança
Necessidade, amargura,
Tem que ter desenvoltura
Focada na temperança;
Nutrir a perseverança
De ser um ser mais regrado,
Não esquecendo o ditado
Deste refrão soberano:
Ah se o dito ser humano
Fosse mais humanizado!


 

COMPROMISSO
(Rubenio Marcelo)

Eu tenho andado a mil, tenho mirado
milhares de misteres e migalhas…
Já perdi guerras e venci batalhas,
fui inocente e me senti culpado…

Por mil e uma sendas tenho andado
tentando contornar tantas muralhas
que, pálidas, conhecem minhas falhas
e buscam desarmar o meu cuidado.

Em campos de trigais, fui avelós
sem sombra, em solidez, sondando, a sós,
os solitários sóis das solitudes…

Entanto, eu decidi: daqui pra frente,
vou ser presente enfim no meu presente,
não mais contemplarei os gestos rudes!


 

NOME AOS BOIS
(Rubenio Marcelo)

por serem de paz os bovinos
não têm nome de guerra
têm sim nome de garra…
boi de corte
mesmo sem sorte
é boi de pé…
qual boi carreiro
e seus pais e irmãos de rebanho…
são bois de verdade
nem nelores nem piores
que o boi careta
aquele boi… boi…
que não tem máscara preta
e que sempre acalenta anjos…

já os bois anônimos
[de gordas arrobas,
rombos e arrombas]
ruminados ao bel-prazer
das codificações,
aparecem só eventualmente…
quando alguns outros
desmamados e em confinamento
buscam recompensas
e assim dão-lhes os nomes:
bois desmascarados,
semens nus
sem menus
|seminus|
mas calados,
bel-zebus…


 

SAGA ALTIVA DAS FORMIGAS
(Rubenio Marcelo)

Altaneiras formigas, calmamente,
Amanhecem cumprindo o dom da sina;
Com destrezas, vão indo, em disciplina,
Tecendo os seus misteres, sempre em frente…

Respeitando os ditames da corrente,
Elas não são escravas da rotina;
Curtem seus feromônios, em surdina,
Desfrutando os prazeres do presente.

São sempre intimoratas… Com elã,
Trabalham… Exercitam nobre afã
E depois se recolhem sem zumbidos…

Bem no meio da noite, nas colônias,
As formigas sorriem das insônias
Dos temerários homens corrompidos.


 

PALMILHANDO O MUNDO HIPÓCRITA
(Rubenio Marcelo)

Com pé atrás, tomei a decisão:
bati o pé, botei o pé no mundo…
E eu, que sempre tive os pés no chão,
de pé pra mão, não perdi um segundo.

Pé ante pé, num mundo em pé de guerra,
notei que, aos poucos, fui perdendo a fé…
Aí pensei voltar os pés pra terra,
mas era tarde… E já não dava pé.

Hoje, de orelha em pé, eu aprofundo
a minha condição de ser no mundo…
Num mundo que tacha aquilo que é crime.

… E este mundo é o mesmo mundo imundo
que pisoteia os fracos (e os oprime),
mas lambe os pés dos trastes do regime.


 

GERAÇÃO DA ANTIFLOGISTINA…
(Rubenio Marcelo)
Jovens-velhos-moços,
nem anjos, nem cruéis…
Nem tango nem jazz,
nem tanso, nem soez.
Na Copa de 70,
inda eu não tinha 10.
Somos fé dos pagãos,
milhões em ação,
criaturas franzinas
daquela legião.
Sonhos da era sã,
de cordatas retinas…
Somos da geração
avessa à sabatina.
Será que envelhecemos?
Ou o tempo é que é velho?
[chega em lépidos corcéis
e se esvai em surdina].

Somos da geração
da Antiflogistina…

À luz de abajures,
relembramos amores,
horizontes alhures…
Quindins e quitutes,
surrados kichutes,
vermutes, bambambãs,
ímãs, rolimãs,
afãs, alfenide,
sonhares no céu:
morcegos de papel
ou National Kid;
qual Tarzan no cipó,
somos alto-astrais…
Sedução e sorte!
Emulsão scott,
emoção, esporte,
nem fracos, nem fortes
apenas mortais
vencendo a rotina…

Somos da geração
da Antiflogistina…

Sim… Somos geração
marca-de-vacina.

Somos bossa, blues,
ou Clube da Esquina.
Com moderação,
Beatles, rock and roll,
Alighieri, Pink, Turner,
Dylan e Raulzito,
Corrine, Corrina.
Somos gene-ação
Anti-Freud-Explica,
destino encoberto,
Sabbath, Queen, Roberto,
blusão e botina
e Jackson por perto.
Transverberação…
Dante, Floyd e Tina.

Somos Geração
D’Antiflogistina!

 

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